Parentes de João Maurício no Brasil
Um fato pouco conhecido é que João Maurício de Nassau-Siegen, durante o seu período no Brasil, estava acompanhado por seu sobrinho Carlos (Karel) de Nassau.
Na batalha de Porto Calvo (Alagoas), comandada por João Maurício de Nassau contra o conde espanhol Bagnuolo, apesar das poucas perdas holandesas, Karel morreu. Era 18 de fevereiro de 1637. Barléu comenta: “um jovem corajoso e ardoroso, vítima do destino.”
O irmão caçula, Johan Ernesto II de Nassau – Siegen (1618-1639) também veio ao Brasil. Apesar da sua pouca idade, 21 anos, Ernesto era general das forças marítimas holandesas. No dia 23 de novembro de 1639 ele faleceu a bordo do navio Alkemeier. A causa da morte foi disenteria, provável consequência da água, supostamente potável, porém insalubre. Os documentos daquela época falam de ‘rode loop’, isto é diarreia com sangue. O historiador Evaldo Cabral de Mello, citando o frei Manoel Calado (1584-1654), amigo de João Maurício com quem costumava conversar em latim, conta como foi a cerimônia fúnebre de Johan Ernesto:

João Maurício de Nassau-Siegen e seu irmão caçula João Ernesto II de Nassau-Siegen (1633). Primeiro retrato conhecido de Nassau, pintado por Wijbrand de Geest (1592-1661).
“O espetáculo impressionou vivamente a todos e chocou, em certos aspectos, o catolicismo dos colonos. Antes que se levasse o corpo a enterrar, estava posta uma mesa na casa do príncipe João Maurício, sem toalhas, mas com muitos pratos cheios de carne cozida e assada e peixe de escabeche, outros com pedaços de queijo, outros com manteiga, e muito pão partido em fatias e muitos frascos de vinho de Espanha e França, cerveja e aguardente. Continuaram a refeição depois do sepultamento. Calado comenta que estes comes e bebes eram para aqueles que rezavam os Pater Nostres e responsos pelo defunto. Terminada a refeição, puseram o defunto em um ataúde coberto de veludo negro com as armas da casa de Nassau esculpidas nela. O mordomo distribuiu a todos os familiares da casa do príncipe, capitães e pessoas conhecidas, luvas pretas e prendeu um pedaço de fita nos braços esquerdos, pois estes eram sinais de luto e tristeza. Oito familiares do príncipe levantaram o ataúde aos ombros e a cobertura dela ia quase arrastando pela terra; diante do ataúde seguia um homem vestido de luto, com um escudo, onde iam pintadas as armas e o brasão dos príncipes de Orange. E junto a este homem, um cavalo vestido de um tecido negro, que só as orelhas e os olhos lhe apareciam e os cascos dos pés e mãos. E começando a caminhar se pôs no meio de todos um arauto com um rol nas mãos, e foi anunciando por seus nomes todos os que haviam de ir naquele cortejo, por sua ordem cada um, no lugar que lhes sinalava. Detrás do ataúde foi o príncipe João Maurício, vestido de veludo negro, com luvas negras e uma plumagem branca no chapéu. Logo atrás iam todos os criados do príncipe e oficiais de sua casa, os oficiais maiores, logo os portugueses, logo os mercadores flamengos, franceses e alemães, logo os judeus. O cortejo desfilou pelas ruas de Recife no mais completo silêncio, entrando finalmente na igreja do Corpo Santo, há anos transformada em templo calvinista, e ali enterraram o corpo, metido em um caixão, sem música nem lágrimas nem outras demonstrações de preces. E enquanto o enterraram, deu toda a soldadesca três descargas de mosquetaria, e as fortalezas de terra e naus do mar dispararam muitas peças. Isto acabado, tornaram todos acompanhando o príncipe com a mesma ordem que haviam vindo, até fora da porta de Recife, onde o príncipe, com o chapéu na mão, fez a todos uma profunda reverência. E isto feito se foi cada um para sua casa.”
Este artigo foi escrito por Johan Scheffer e publicado pela ACBH na revista De Regenboog nº 311 fevereiro 2025.
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