Bernardo Bomba (2) – Bommen Berend
Um autor holandês (*) descreve Bernardo von Galen assim: “Um bispo que preferiu o cheiro da pólvora ao cheiro do incenso”. Com outras palavras: “ele dava prioridade maior às guerras do que à cura das almas de sua diocese”. O objetivo principal de Bernardo era converter as pessoas ao catolicismo, que tinha sofrido grandes perdas por causa da Reforma.
No ano de 1665, a Holanda estava envolvida numa guerra com a Inglaterra. Bernardo se aproveitou desta situação e, reivindicando direitos sobre a região e cidade de Borculo, invadiu o leste e norte da Holanda. Desde 1406, Borculo e vasta região estavam sob a jurisdição religiosa dos bispos de Münster, que exerciam também grande influência política. Borculo se tornou um domínio senhorial (heerlijkheid) de Münster com relativa independência, podendo cobrar impostos e manter um exército. A corte de Gelre (província de Gelderland) julgou, em 1605, uma questão de herança sem levar em consideração a influência de Münster. Tinha nascido assim a ’Questão Borculo’. Borculo foi incorporada à Holanda e deveria se adequar às novas diretrizes. Os bispos de Münster nunca aceitaram o resultado deste julgamento, mas não reagiram de imediato, por estarem envolvidos na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648).
Quando, entre outros títulos, Bernardo foi nomeado bispo de Münster em 1650, ele se declarou ‘Senhor de Borculo’, dando a entender que ainda se considerava ‘dono’ de Borculo. No dia 24 de setembro de 1665, finalmente, se achou preparado para exigir seus direitos e invadiu a Holanda, com 20.000 soldados e 10.000 cavaleiros, conquistando logo as cidades de Enschede, Diepenheim, Oldenzaal, Ootmarsum, Borculo, Bredevoort, Lochem, Doetinchem, Vorden e o castelo Keppel.
Castelo Keppel
Foto G. Jacobs
Pedra com placa comemorativa da Batalha de Jispínghuizen
É desta época que datava a lenda, desvendada apenas em 2017, que Bernardo tinha incendiado a vila de Vriezenveen. Na verdade foram os próprios soldados holandeses que, para obterem uma melhor vista das tropas inimigas, tinham derrubado e incendiado inúmeras construções. Uma vez que Bernardo já tinha a fama de ‘incendiário’, colocaram a culpa nele. No entanto, consultando arquivos, o historiador amador Gezinus Grissen** descobriu a verdadeira história: “O zelador de uma igreja pediu indenização do governo holandês pela perda da sua casa incendiada. Após dois anos, a indenização a ele e muitos outros foi concedida.”
O exército de Bernardo avançou até chegar ao bastião de Ommen. Percebendo a impossibilidade de conquistar a cidade, procurou uma saída mais para o norte, precisando passar pelo lugarejo de Lichtmis, perto de Zwolle. Neste local, acesso obrigatório para Rouveen e Staphorst e o norte da Holanda, João Maurício fez construir rapidamente um bastião para impedir o avanço. O comandante de Rouveen recebeu a ordem de providenciar abrigo, feno, lenha e turfa. Havia apenas 250 soldados para defender o bastião. O bispo Bernardo, muito esperto, fez tocar o (hoje) hino nacional da Holanda (Wilhelmus), dando a impressão que estavam chegando reforços para os holandeses. A guarnição caiu na armadilha e abriu os portões para os soldados de Bernardo, que conseguiu avançar. Em 2008, o bastião foi restaurado na sua forma estrelada original e se tornou uma atração turística, O Bastião do Bispo.
O bispo avançou para se unir com outra parte do seu exército que tinha invadido o norte da Holanda. As tropas se encontraram no vilarejo de Jipsinghuizen, na província de Groninga. Os soldados achavam que estavam relativamente seguros porque a região é cercada de pântanos. Corre a história de que o zelador da igreja, disfarçado de lavrador, matou uma sentinela e tocou a trombeta. Era 26 de setembro de 1665. Os reforços que tinham chegado da cidade de Groninga, junto com os soldados aquartelados na cidade de Winschoten e no bastião Bourtange, atacaram de surpresa os soldados do bispo, dando a impressão de que um grande exército os ameaça. Eles fogem pelo pântano na direção da Alemanha, mas 300 soldados são mortos ou se afogam no pântano de Bourtange.
João Maurício de Nassau-Siegen, comandante supremo, avança na direção da cidade de Bocholt, ameaçando o território do bispo de Münster, que resolve retirar as suas tropas. Mesmo nesta retirada conseguem levar mais de mil vacas, pois os soldados haviam construído duas estradas flutuantes sobre o pântano, empregando árvores, galhos, portas de casas e barracões, tábuas e palanques. Depois da batalha, estas ‘pontes’ foram incendiadas. Os soldados mortos foram enterrados numa vala comum, que recebeu o nome de Cemitério do Bispo (Bisschopskerkhof). Neste exato local se encontra hoje uma igreja protestante.
Quando as negociações sobre um acordo de paz se iniciam, o bispo é informado desse fato pelo representante da Holanda. Bernardo, decepcionado e derrotado, exclama “Mein Borkelo, welches mir von Gottes und Rechts wegen zukommt”. (“Meu Borculo, que me pertence pela mão divina e de direito”).
Abandonado pelos aliados, entre eles Inglaterra e França, Bernardo se vê obrigado a aceitar as condições estipuladas na Paz de Cleves, em abril de 1666: imediata retirada dos seus soldados, redução do seu exército para 3.000 soldados e renúncia aos seus supostos direitos sobre Borculo e região. Termina assim a primeira Guerra de Münster.
* l. Panhuysen: Rampjaar 1672 etc.
** Niels Heuven: Bommen Berend, brandstichter van Vriezenveen?
Gravura da Batalha de Jipsinghuizen
Este artigo foi escrito por Johan Scheffer e publicado pela ACBH na revista De Regenboog nº 291 junho 2023.
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