Oropa, Olanda e Bahia
Fui viajar pelo mundo
Prá saber se o dito cujo era redondo
Viajei de pingente pelos trens do Oriente
Andei de peito aberto ao sol dos desertos
Atravessei cem anos de solidão prá chegar até Makondo
E ouvir as Vozes d’África.
Bebi sucos de manga em botecos de Tanganika
Fui à Martinica conhecer de perto a Chiquita Bacana
A tal que se veste com uma casca de banana nanica
Descobri que o mundo é o mesmo em toda parte
Que em qualquer cidade do mundo o trânsito engarrafa
Às seis da tarde
E os países são assim como as pessoas
Às vezes numa ruim ás vezes numa boa.
A cada povo seu próprio lume
Cada país tem sua própria dança
Suas próprias crianças suas crenças
E esperanças
Suas semelhanças e suas diferenças
Viajar só depende dos passos
De quem anda
Das cidades que passei
A que mais amei
Foi Amsterdam
Na Holanda
Amsterdam é uma espécie da Bahia
Onde o sol nasce gelado
Como a Bahia vista por um outro lado
Orixás baixando na neve
Porém a mesma magia
Carnavais de outras cores e outras alegorias
Canais de gelo Casas de Chocolate rios de iogurte
Mas se você curte
É como uma gelada Bahia intropical
E se o baiano inventou o acarajé com pimenta e cenoura
O holandês tirou da cachola o haring com cebola.
O povo holandês transformou o mar em canais
E os canais em rios de água doce
Por ser um povo do mar
Guardou consigo o sonho de navegar
De sair buscando por terras distantes
De aportar onde ninguém aportou antes.
Foi pro Suriname e escreveu seu nome
Foi prá Indonésia e abriu as portas da Ásia
Foi prá Aruba tocar sua tuba
Foi prá Curaçao adoçar seu coração
E Maurício de Nassau por não gostar de bacalhau
Veio pro Recife comer bife com batatas.
Se você passar por Pernambuco
E encontrar pelos lados de Olinda uma mulata linda
Uma beleza destas de te deixar maluco
Com os olhos verdes da cor do mar do nordeste
Foi o holandês cabra de peste
Que passou por aquelas bandas
Por isso que ao invés de Olinda
Olinda poderia se chamar Olanda.
Autor: Mano Melo
Fonte: Crônica da Holanda nº 100 (1987)
Poesia publicada pela ACBH na revista De Regenboog nº 260, outubro 2020.
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